Sala Verde Amanajé: projeto de educação ambiental percorre escolas do nordeste paraense
"Amanajé” é um termo tupi que significa “mensageiro”, aquele responsável por informar e também “convocar para a luta”. Na Sala Verde Amanajé, projeto de extensão da Universidade Federal Rural da Amazônia, campus Capitão Poço, a convocação é para lutar pelo meio ambiente, a partir da educação.
A Sala Verde Amanajé existe desde 2018, e busca uma aproximação entre homem, ambiente, escola e universidade. O projeto é vinculado a uma rede de “salas verdes” do Brasil, iniciativa do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) para a implantação de espaços socioambientais que atuem como centros de informação e formação ambiental.
Coordenado pela professora Fernanda Romagnoli com o apoio de alunos, a equipe do projeto realiza e apoia atividades de educação ambiental em 18 escolas estaduais e municipais de Capitão Poço, Garrafão do Norte e Nova Esperança do Piriá, municípios do nordeste paraense. As atividades desenvolvidas incluem palestras; orientações técnicas; jogos; oficinas de reaproveitamento, reciclagem e compostagem; exposições e fabricação de artesanato a partir do reaproveitamento de materiais.
Nas escolas
Entre 2018 e 2023 a Sala Verde Amanajé tinha um espaço físico no campus Capitão Poço, com hortas e um espaço de exposição em que recebiam as escolas para falar de agroecologia, plantio orgânico e compostagem.
Isso mudou em 2023, com a Lei estadual N° 9.981, que Institui a Política de Educação Formal para o Meio Ambiente, Sustentabilidade e Clima. A lei torna a educação ambiental um componente curricular obrigatório em todas as escolas de educação básica.
Foi o incentivo que faltava para que a Sala Verde Amanajé saísse da universidade e fosse parar dentro das escolas. A sala deixou de ser um espaço físico no campus e passou a existir de forma itinerante. “Decidimos focar nossas ações nos projetos de educação ambiental das escolas, de uma forma descentralizada e que chegasse efetivamente aos alunos. Com isso podemos manter uma efetividade a longo prazo e não somente em ações pontuais, como eram as visitas”, diz a coordenadora.
Em 2024 a equipe do projeto realizou cursos para professores das escolas estaduais e municipais da região, em parceria com a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) e a Secretaria Municipal de Educação de Capitão Poço. Foram mais de 80 professores capacitados em quase três meses de curso. Ao final do curso, os professores das escolas participantes entregaram projetos de educação ambiental para desenvolver em suas escolas. “Cada grupo de professores elaborou um projeto de acordo com as demandas de cada local e comunidade. Nós contribuímos e desde então nós acompanhamos a implementação desses projetos, apoiando com diversas ações”, explica a coordenadora.
Ela diz que a partir dessas atividades, tem escola que desenvolveu projetos bem complexos que envolvem desde compostagem e horta, até captação de água da chuva e ecobarreiras.
Na EEEFM Padre Vitaliano, por exemplo, as atividades do Sala Verde Amanajé se integram às disciplinas escolares, como matemática e física.
“Os professores ensinam sobre volume, fazem análise química do solo usado nas hortas”, diz.
Já na EEEFM Osvaldo Cruz, que funciona como “escola azul”, são realizadas atividades voltadas ao desenvolvimento sustentável e à cultura oceânica.
Na EEEFM Belina Campos Coutinho, junto aos alunos e professores, o grupo está desenvolvendo um projeto de implantação de uma ecobarreira em um igarapé da região. Enquanto que na EEEFM Dionísio Hage o foco é no plantio de hortas, fabricação de mudas e arborização da escola. “Nessa escola a abordagem tem o enfoque no bem-viver, que é um olhar diferenciado para a relação com a natureza”, explica a professora.
Jogo da memória e Cop-30
Com a proximidade da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (Cop-30), que será realizada em novembro na capital paraense, o tema também tem destaque nas atividades do projeto.
“Desde o ano passado nós abordamos o tema da Cop-30 nas nossas atividades e as escolas já tem iniciativas próprias, como as conferências infanto-juvenis para o meio ambiente, uma iniciativa da Seduc", diz Fernanda Romagnoli.
Ela explica que assuntos relacionados ao clima e mudanças climáticas são inclusive tema de um jogo que a Sala Verde Amanajé leva para as escolas. “Estamos aplicando esse jogo para ver os resultados e depois disponibilizá-lo para os professores usarem em sala de aula”, diz.
O jogo é o “Desvendado as razões das mudanças climáticas”, criado pela estudante de biologia Kilvia Conceição e desenvolvido pelo aluno Thiago Santos, do curso de licenciatura em computação. A brincadeira consiste em um jogo de memória, em que os adolescentes aprendem de forma lúdica sobre temas como meio ambiente, queimadas, consumismo, industrialização e desmatamento.
“A brincadeira é pra gente se aprofundar nessas temáticas, mas de forma lúdica, uma forma que eles consigam participar e absorver”, explica.
Nas salas de aula, os alunos são divididos em grupos e convidados a jogar, ajudando a reflorestar digitalmente uma área que foi desmatada. A cada par que é encontrando, os jogadores respondem a uma pergunta. Quem responder mais perguntas de forma correta, vence.
“Antes do jogo nós fazemos uma roda de conversa sobre as temáticas. E ao final de cada jogo, os alunos respondem a um questionário, para que a gente avalie se a atividade é viável. E as avaliações tem sido muito positivas, os alunos se empenham e conseguem absorver o conteúdo”, diz Klivia, que está aprimorando o jogo como produto de seu trabalho de conclusão de curso da graduação.
Para a professora Fernanda Romagnoli, a convocação para a luta tem dado certo. “A raiz dessa questão é como o homem vê a natureza, como sendo algo somente útil. Na Amazônia a gente ainda tem grupos que mantêm outros tipos de relações com o meio ambiente. A importância do projeto é valorizar essas relações com a natureza que ainda existem por aqui. Não precisamos copiar modelos ou ações de outros locais, vamos valorizar essa cultura que existe aqui”, finaliza.
Texto: Vanessa Monteiro, jornalista, Ascom Ufra
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