Inclusão: Ufra aprova cotas para pessoas trans
Ampliando as ações afirmativas na instituição, a Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) aprovou a criação de cotas para pessoas trans, transexuais e travestis, visando o ingresso e a permanência delas na universidade. A resolução foi aprovada no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) na última sexta-feira, 20.
O pró-reitor de Ensino, professor João Almiro, explicou que as cotas se darão por meio de um Processo Seletivo Especial, já para o ingresso no primeiro semestre de 2025. Sisu e Prosel continuarão no mesmo formato.
“A partir de 2025 a Ufra reservará 2% de suas vagas para o processo seletivo anual de pessoas trans, o que corresponde a uma vaga para os cursos de até 50 vagas, duas vagas para os cursos de 90 ou 100 vagas e três vagas para o curso de 150 vagas. As vagas são reservadas para o público trans, em caso de não preenchimento, a vaga retorna para o banco de vagas da instituição”, afirmou o João Almiro.
Segundo o pró-reitor, após uma recomendação do Ministério Público do Pará, a Ufra assumiu a missão e a Pró-reitoria de Ensino organizou um Grupo de Trabalho (GT) com 12 pessoas, dentre docentes, técnicos e discentes, sendo três pessoas trans, para a implementação das cotas na Rural.
Emilly Cassandra, travesti e aluna do curso de Letras Português da Ufra, fez parte do GT que trabalhou pela implementação das cotas na universidade. “Existe uma briga nacional para que haja cotas em todas as universidades públicas, para que essas pessoas, que por anos foram massacradas, possam ter direito a uma formação acadêmica e ser futuras professoras, médicas veterinárias, biólogas ou qualquer outra formação que a universidades proporcionem.”
“A Ufra está dando um pontapé na luta social dentro do estado, para que outras instituições olhem a Universidade Federal Rural da Amazônia como um exemplo de universidade federal no Estado do Pará sobre as cotas trans. Então, é uma grande vitória”, afirmou Emilly.
Emilly explica que a luta pelos direitos das pessoas trans não é recente e que por muitas vezes essas pessoas são invisibilizadas no processo histórico. “Quando a gente fala de ação afirmativa, a gente fala de populações como população negra que eu também estou inserida, que por séculos foram escravizadas, a gente também não nega para a população de travestis e transexuais, que já vem sendo massacrada há muitos anos. Então a gente fala de um contexto histórico, desde Xica Manicongo passando pelas invisibilizadas, porque existem pessoas que são invisibilizadas nesse processo histórico”, afirmou.
“Então o avanço das cotas é exatamente isso. Muitas travestis não têm nem o acesso ao Ensino Fundamental. Isso é uma briga para que abram espaços para que essas pessoas possam ter acesso ao ensino básico, para ter uma formação básica e chegar na graduação. A gente tem um número grande de travestis que conseguiram concluir pelo Encceja [Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos]. Eu sou uma delas. O ensino médio pelo Encceja e passar numa universidade pública e de qualidade. E quando a gente fala de cota, a gente está falando de aceitação do gênero dessa pessoa trans ou travesti. A gente está falando de respeito”, disse a aluna.
A reitora Herdjania Veras de Lima também aprovou a inclusão das cotas. “A Universidade Federal Rural da Amazônia está de portas abertas, dando essa possibilidade de formar profissionais que queiram atuar nessa área do rural e nas demais que temos aqui, e a gente entende que todos, sem discriminação, precisam acessar um ensino de qualidade de uma universidade pública e gratuita. O trabalho que fizemos é pela inclusão e a permanência.”
“Não é só abrir vagas, mas que todos aqueles que entraram na nossa universidade e que precisam de um olhar especial para manter os seus estudos, nós temos tido esse olhar para que se sintam acolhidos aqui dentro, e que tenham todo o apoio necessário para concluir bem o seu curso, sair daqui inserido no mercado profissional e que essa graduação possa transformar a vida deles em oportunidade. Esse é o nosso dever aqui dentro”, afirmou a reitora Herdjania.
Inclusão da Ufra
Além da aprovação de cotas para pessoas trans, a Ufra realizou neste ano o primeiro Processo Seletivo Especial destinado a indígenas e quilombolas, ofertando 4 vagas adicionais em cada um dos cursos da universidade.
No Sisu, a Rural também adota cotas para pessoas surdas no curso de Letras Libras, em Belém, e bônus regional para os campi do interior. Assim como segue a Lei de Cotas (Lei nº 12.711/2012) destinada para pessoas de escola pública, baixa renda, negros, indígenas, quilombolas e pessoas com deficiência.
Texto: Bruno Chaves, jornalista, Ascom Ufra
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