Professor da Ufra apresenta trabalhos em Congresso Internacional de Agroecologia em Portugal
Único representante da Amazônia brasileira, o professor José Romano, do campus de Capitão Poço da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), esteve no Congresso Internacional de Agroecologia apresentando seus trabalhos sobre o café ancestral da Amazônia e sobre a Cooperativa D’Irituia. O evento ocorreu entre os dias 2 e 6 de setembro no Instituto Politécnico de Viseu, em Portugal.
Com o tema “Agroecologias do Mundo: Unidas para Enfrentar as Crises Globais”, o congresso contou com a presença de cerca de 400 especialistas de 25 países. O objetivo do congresso é contribuir para a produção, consolidação e partilha de conhecimentos e experiências agroecológicas, na promoção da transição para sistemas alimentares sustentáveis através do debate e consenso sobre os elementos comuns entre as agroecologias do mundo.
O professor José Romano foi o único representante da região amazônica no evento e comentou os desafios dos cientistas no Brasil. “Fazer ciência nesse país é muito difícil. Você não tem apoio, você não tem recursos, o que faz muitas vezes é com dinheiro próprio. Falar da Amazônia todo mundo acha legal, todo mundo acha bonito, todo mundo quer, mas ninguém quer vivenciar as dificuldades que aqui estão. Então, ser único representante ao mesmo tempo é interessante pra dizer “olha, nós estamos aqui, nós estamos fazendo”, mas ao mesmo tempo, em um estado que vai sediar a COP 30 no ano que vem e ter uma única pessoa, implica dizer que tem muita coisa para ser feita e para ser valorizada”, afirmou.
Um dos trabalhos de José Romano apresentado no congresso é intitulado “O Café Ancestral Agroecológico da Amazônia Oriental Brasileira” e foi realizado no nordeste do Pará, nos municípios de Irituia, Capitão Poço, Ourém, São Domingos do Capim, São Miguel do Guamá e Mãe do Rio. Este café está há quase 300 anos na região e pouco se conhece, pois são raros os estudos realizados sobre o tema.
O café ancestral agroecológico só se encontra em propriedades de pequeno porte, comunidades tradicionais, áreas de quilombo e regiões ribeirinhas. O cultivo é economicamente viável e ambientalmente correto, por dispensar o uso de agrotóxicos agrícolas e insumos químicos.
A cooperativa D’Irituia, do município de Irituia, foi o segundo trabalho apresentado pelo professor José Romano no congresso. A cooperativa surgiu em 2011 e a Ufra de Capitão Poço a acompanha há cerca de 8 anos, com atuação de 7 professores, em parceria com a Embrapa Tipitamba.
Segundo o professor José Romano, “a Ufra Capitão Poço se sobressai na vanguarda em pesquisa sobre Agroecologia desde a Fundação do NEA [Núcleo de Agricultura Familiar e Agroecologia], bem como as ações de extensão com a Cooperativa D'Irituia.”
A D’Irituia conta com 42 cooperados e um conselho administrativo formado apenas por mulheres. Foi a primeira cooperativa do Pará constituída como um Organismo Participativo de Avaliação de Conformidade (Opac). A base da cooperativa é a agricultura familiar, porém entrou recentemente também na área do extrativismo para a venda de tucumã em uma parceria com a empresa Natura.
Para a administradora e cooperada da D’Irituia, Fernanda Lima, a parceria com a Ufra deu certo pela troca de conhecimentos entre os dois. “Como nós já temos uma pegada agroecológica e a Ufra também tem essa base, os pesquisadores e alunos nos assessoram para combater pragas, produzir biofertilizantes e biodigestores. A cooperativa recebe muitas visitas de alunos, muitos para estágio de vivência, quando o aluno vem e passa uma temporada com o agricultor. Então é uma troca. A Ufra vem com informações que nós precisamos e nós também temos conhecimentos empíricos que ajudam eles na construção de TCC, dissertação, tese, tudo a respeito da cooperativa. Muitos voltados aos Sistemas Agroflorestais e de como a cooperativa produz de maneira harmoniosa com a natureza.”
Texto: Bruno Chaves, jornalista, Ascom Ufra
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