Ufra amplia parceria com chineses visando intercâmbio, tecnologia, biofertilizantes e possível nova rota marítima
A reitora da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), Herdjania Veras de Lima, integrando a Comitiva Precursora do Governo Federal Brasileiro, esteve na China entre os dias 20 e 27 de maio. Em reuniões com representantes da Universidade Hohai e de empresas chinesas, a Ufra ampliou o acordo de cooperação proporcionando intercâmbios entre os dois países para alunos e professores. A implementação de uma nova rota marítima direta entre Brasil e China também foi um dos temas abordados, visando facilitar a importação de biofertilizante, objeto de estudo e cooperação entre a Ufra e a universidade chinesa.
A viagem à China foi financiada pela empresa chinesa Zhuhai Sino-Lac Supply Chain, e além da reitora Herdjania, contou com representantes dos estados do Amapá e do Mato Grosso. O ministro do Desenvolvimento Regional do Brasil, Waldez Góes, que estaria acompanhando a comitiva, cancelou sua ida devido as tragédias ambientais no Rio Grande do Sul.
A visita, que durou 8 dias, contou com encontro com lideranças da Zona de Desenvolvimento de Econômico e Tecnológico de Zhuhai; reuniões na Universidade de Hohai; visita à Plataforma Integrada de Serviços Econômicos e Comerciais Sino-Latino-Americana; Reuniões para avanço da logística marítima entre China e Brasil, dentre outros.
Intercâmbio para alunos e professores
No primeiro acordo entre a Ufra e a Universidade de Hohai envolvia apenas o estudo e teste com biofertilizante que pode recuperar áreas degradadas. Nesta nova parceria com a instituição chinesa o foco é o intercâmbio entre as universidades.
“Esse amplo acordo de cooperação envolve a ida e vinda de professores e de alunos, entre as duas instituições. Nós fizemos uma reunião com a equipe de acordo internacional para fechar os detalhes dessa parceria envolvendo essa cooperação de intercâmbio para alunos de graduação, pós-graduação e para professores. Esperamos que a gente possa fazer uma seleção de alunos para ir nesse intercâmbio ainda neste ano”, afirmou a reitora Herdjania Veras de Lima.
Segundo a reitora, devem ser selecionados para o intercâmbio alunos dos cursos de graduação e pós-graduação da Ufra que, irão trabalhar com o projeto de biofertilizante, parceria entre Ufra e Hohai.
“Para os alunos de graduação eles deram a possibilidade de, usando o modelo que usam com outras instituições, o aluno cursar dois anos da graduação aqui e dois anos lá. No final ele sairia com um diploma das duas universidades”, disse a reitora.
A Universidade de Hohai foi fundada em 1915 e é referência na China, têm relação de cooperação interuniversitária com cerca de 50 universidades de mais de 20 países e faz parte da BRICS League, uma rede de universidades de excelência do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Nova rota marítima direta Brasil-China
Outro objetivo da visita foi estabelecer uma nova rota marítima direta entre Brasil e China, ligando a Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau ao porto de Santana, no Amapá, facilitando assim a importação dos biofertilizantes, objeto de estudo e cooperação entre a Ufra e a universidade chinesa de Hohai, e a exportação de commodities agrícolas do Brasil.
“Hoje as rotas que existem vêm da China e a maioria vai para Santos, em São Paulo. Essa nova rota vem direto pelo Pacífico via canal do Panamá, chegando no Brasil pelo porto de Santana. Uma rota mais curta vindo pelo Pacífico e não pelo Atlântico. O projeto dos biofertilizantes que estão sendo produzidos na China, vem nesses navios abastecer a gente com esse produto e voltaria com outros produtos”, comentou a reitora.
Rota marítima direta ligando a Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, na China, ao porto de Santana, no Amapá
Segundo dados da Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil, a China se mantém como principal destino das exportações do agronegócio brasileiro, tendo alcançado a cifra de US$ 11,62 bilhões entre janeiro e março de 2024.
“É um projeto amplo. A China é o maior importador de produtos agrícolas do Brasil. Então a ideia é que, ao investir na recuperação de áreas degradadas, nós possamos trazer essas áreas para produção e a China faça a compra desses produtos. Com essa nova rota que está sendo planejada, encurta a distância e reduz os custos”, disse.
A reitora Herdjania esteve na reunião entre os portos do Amapá e Zhuhai, na China, e diz que o projeto dos biofertilizantes está inserido e é essencial para que seja criada a nova rota marítima direta entre Brasil e China. “Nós exportamos muito e importamos pouco. Os navios não podem vir vazios, porque economicamente não é viável. Então, por isso que o projeto dos biofertilizantes é tão importante. Porque os navios devem vir com os biofertilizantes para ajudar na produção agrícola e recuperação de áreas”, comentou.
Novas tecnologias
No Centro Nacional de Inovação para a Agricultura, a reitora da Ufra reuniu empresas que trabalham com fertilizantes foliares e embarcações não tripuladas e assinou um acordo com a intenção de testar os produtos no Brasil.
Segundo a reitora, a Ufra deve servir de uma ponte para o comércio desses produtos após os testes na universidade. “A China entende que para entrar com o produto em outro país a chancela de uma universidade é muito importante. Então outras empresas querem que a Ufra faça esses testes e diga se são produtos bons e eficientes e que podem ser usados no Brasil. Após isso, é como se depois a Ufra recebesse royalties em cima desses produtos, que no futuro possam ser comercializados no país. Não é que a gente vai comercializar eles, mas a gente iria indicar, testar, analisar, digamos, dar um selo dizendo se o produto é bom ou não”, afirmou.
Os testes serão conduzidos seriamente para ter a aprovação da universidade. “Porque nós só vamos botar o nosso selo, o nosso carimbo, naquilo que é bom. E com isso dá uma credibilidade maior, porque hoje entra no mercado diferentes produtos. Está cheio de empresas privadas que fazem isso, mas não tem uma instituição universitária, federal, de renome, de reconhecimento, que chancela a entrada de biofertilizantes no Brasil. Então quando isso acontece, tem uma maior credibilidade. Sendo que os produtos com o selo de qualidade atestados pela Ufra terão uma boa aceitação na China. Também o fato de hoje a universidade ser nota 5, faz com que todos vejam o nosso potencial. Então querem que a Ufra teste o produto deles, porque sabem que na hora que nós dissermos que é bom, realmente vai ter uma qualidade associada”, disse.
O projeto dos biofertilizantes foi o pontapé inicial para a Ufra testar outros tipos de produtos. “Várias empresas, produtores de produtos para agricultura querem que a Ufra faça o teste de produtos deles aqui no Brasil para ver a viabilidade técnica. Então, para nós é muito importante, porque é um ponto que a Ufra precisa crescer bastante, o desenvolvimento de tecnologias. E os chineses têm muito a nos ajudar nesse sentido, inclusive com relação do uso de inteligência artificial. O projeto dos biofertilizantes vem associando isso”, comentou a reitora Herdjania.
Testes em Paragominas
O biofertilizante produzido na Universidade de Hohai está em fase de teste no campus da Ufra Paragominas, em uma parceria com a cooperativa agroindustrial Coopernorte, na cultura do milho. Os testes iniciaram em março de 2024 e os dados iniciais já mostram excelentes resultados na melhoria da fertilidade e biota do solo.
Teste com biofertilizantes em Paragominas
A professora da Ufra, Elaine Guedes Lobato, que está acompanhando de perto o experimento, afirma que os resultados são promissores. “Os primeiros resultados demonstram que o biofertilizante está sendo positivo para cultura e para o solo da região, principalmente em condições de solo pobres em nutrientes e matéria orgânica”, disse.
Um dos principais objetivos do projeto dos biofertilizantes é criar um modelo testado para recuperar inicialmente um milhão de hectares para a agricultura familiar, com recursos brasileiros e chineses.
O biofertilizante tem como objetivo principal a recuperação de áreas degradadas na Amazônia e é diferente dos utilizados diariamente pelos produtores rurais. “O biofertilizante tem várias características importantes, além de fornecer nutrientes, tem uma fração de matéria orgânica ativa resiliente que permanece ao solo por mais tempo, assim pode colaborar para recuperar as características físicas, químicas e microbiológicas dos solos”, afirmou a professora
O biofertilizante testado em Paragominas chegou em fevereiro deste ano com 500 quilos. Em agosto uma nova remessa irá chegar no Brasil com 40 toneladas para expandir as áreas de teste para os municípios de Bragança, Barcarena, Santarém e Moju no Estado do Pará e no Estado do Amapá. O teste deve envolver as principais cadeias produtivas dos referidos estados.
BioAmazônia
A Universidade de Hohai é quem detém a patente e a produção do biofertilizante testado em Paragominas, mas agora estão produzindo junto à Ufra uma formulação específica para a Amazônia. O projeto já foi apresentado pela Ufra ao Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional que irá financiar o estudo e teste do produto que foi denominado BioAmazônia.
“Nós estamos testando um material que é produzido lá e que a Ufra poderá inserir outros compostos para serem testados, como microrganismos. Estamos testando e num outro momento nós vamos fazer um levantamento e dizer com que materiais a gente poderá produzir o nosso próprio biofertilizante no futuro. Então a Universidade de Hohai também ajudará nessa formulação 100% brasileira”, afirmou a reitora Herdjania Veras de Lima, que é agrônoma e especialista em Solos e Nutrição de Plantas.
O Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional já aprovou o projeto da Ufra, que aguarda a liberação de recursos para dar continuidade ao estudo do BioAmazônia. “Nós devemos iniciar esse ano um outro projeto a partir desse que vem sendo feito em Paragominas. Agora nós vamos entrar em uma nova fase, que é para fazer o mapeamento de todos os produtos, para saber novas composições, além de ampliar as áreas de teste deste biofertilizante aqui, por isso chamam de BioAmazônia, porque é uma formulação específica que a universidade montou para ser usada na região. Então a Ufra, com recurso chinês, do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional e com o apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia, vai fazer um levantamento de todos os rejeitos, tanto de origem vegetal quanto de animais, que podem compor um biofertilizante 100% brasileiro”, disse.
Os testes com o biofertilizantes serão ampliados também para áreas de pastagens. “A maioria das áreas rurais foram degradadas pelo uso excessivo, bem como pelo uso intenso das pastagens, entre outros. Então a gente também vai estender esse teste dos produtos para pastagem, para ver como é que ele atua na recuperação dessas áreas”, comentou.
“Hoje a nossa produção agrícola depende bastante de insumos químicos. Então a estrutura do solo vai sendo degradada. Digamos assim, que é como se as nossas veias fossem ficando entupidas devido ao uso excessivo de produtos químicos, e a mesma coisa acontece no solo. Os poros do solo, eles têm que estar bem, ter uma boa estrutura porque a água circula e leva os nutrientes para as plantas. Então esse material que é 100% orgânico, ele vem como se fosse um remédio para as melhorias das condições de solo. E associado a redução dos produtos químicos na lavoura, resultará em uma produção mais sustentável e na recuperação de áreas. Então é para isso que a gente está trabalhando”, comentou a reitora.
Os resultados do projeto dos biofertilizantes e o modelo de recuperação de áreas degradadas deverá ser concluído antes da COP 30. “O projeto deverá ser apresentado ao BRICS, ao presidente do Brasil e ao Governo do Estado do Pará, como uma alternativa de soluções para minimizar os impactos no clima e promover a sustentabilidade ambiental para a produção agrícola na Amazônia”, concluiu.
Texto: Bruno Chaves, jornalista, Ascom UFRA
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