Professor da Ufra Parauapebas e outros pesquisadores desenvolvem índice que analisa colapso da estrutura hospitalar brasileira frente à pandemia

O indicador, que utiliza dados dos sistemas público e privado, aponta que Belém (PA) já se encaminha para o colapso.

Os sistemas de saúde de cinco capitais brasileiras estão próximos do colapso: Manaus (AM), Macapá (AP), São Paulo (SP), Fortaleza (CE) e Palmas (TO). É o que aponta a última atualização semanal do COVID-Index, uma ferramenta criada por um grupo de pesquisadores brasileiros para analisar a possibilidade de colapso da estrutura hospitalar do país, decorrente da pandemia no novo coronavírus.

A grande diferença é que o indicador não leva em consideração somente a taxa de ocupação de leitos do Sistema Único de Saúde (SUS). A ferramenta analisa o sistema de forma mais ampla: infraestrutura física (leitos e respiradores) e capital humano disponível (médicos clínicos, infectologistas e pneumologistas) dos sistemas público e privado, além do número de casos confirmados e de óbitos por COVID-19.

Entre os pesquisadores que desenvolveram a COVID-Index está o professor da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), campus Parauapebas, Diogo Ferraz. Além dele, compõem a equipe o professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Enzo Barbeiro Mariano, os professores da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) Herick Fernando Moralles e Patrícia Manzine Moralles e os professores da Universidade de São Paulo (USP) Daisy Rebelatto e Paulo Morceiro.

O objetivo é fornecer informações mais completas que possam subsidiar o poder público na tomada de decisões em relação ao enfrentamento da pandemia. A ferramenta consegue transmitir a informação de forma simples, por meio de um índice que varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, pior é o desempenho, indicando que a região está próxima de entrar ou já entrou em colapso. Quanto mais próximo de 0, melhor a situação da cidade, estado ou microrregião. Assim, o governo estadual, por exemplo, pode comparar a situação nas diferentes microrregiões do estado e, com base nisso, decidir para onde enviar novos respiradores, realocar médicos e construir hospitais de campanha. O indicador é atualizado semanalmente.

Além das capitais que já aparecem com o valor 1,0 e cor vermelha (Manaus, Macapá, São Paulo, Fortaleza e Palmas), as capitais São Luís (MA), Recife (PE) e Rio de Janeiro (RJ) também estão perto de uma saturação do sistema, por isso a cor amarela. Tanto o Pará (0,32) quanto a capital, Belém (0,38), aparecem na 11ª posição no ranking, que vai do pior ao melhor caso.

Segundo o professor Diogo Ferraz, Belém ainda está em uma posição intermediária, mas já se encaminhando para o colapso. “É evidente que a sensação na capital é de que já esteja em colapso, mas nosso indicador capta a infraestrutura hospitalar do SUS e do sistema privado, o que o diferencia em relação ao que está sendo divulgado na mídia sobre o SUS”. Além disso, alerta ele, as subnotificações e a demora nos resultados podem impactar o indicador. “Muitos leitos podem estar ocupados por pacientes doentes, mas sem confirmação de COVID-19. Por este motivo, estas pessoas não entram no nosso índice, que só trabalha com casos confirmados”.   

A expectativa para Belém preocupa os especialistas. “Na próxima semana, é provável que Belém já esteja em uma situação pior no ranking, pois o número tem aumentando muito rápido. Desta forma, o indicador reforça a necessidade de atenção no estado e, sobretudo, na capital”, ressalta o professor da Ufra, que é economista, doutor em Engenharia de Produção e possui experiência em modelos econométricos e Data Envelopment Anaysis.

Os dados completos, atualizados no dia 21/04/2020, podem ser conferidos em: https://www.researchgate.net/publication/340817064_COVID-Index_Colapso_do_Sistema_Hospitalar_Brasileiro_20042020

Texto: Jussara Kishi - Jornalista Ascom Ufra